AVALIAÇÕES E DEPOIMENTOS
Opinião de leitores acerca do livro “Ser mais Pessoa”, no site de uma livraria online (traduzidos do inglês):
Reino Unido, 6 de junho de 2019, compra verificada:
“Porque nós ficamos em nosso próprio caminho”
“Isto para mim é uma exploração sólida – embora curta – de um pensador verdadeiramente fundamentado. A mente pode tremer um pouco ao lê-lo, pois as complexidades do que adotamos como sendo a ‘verdade’ do homem são eliminadas, e somos apresentados ao que o homem é, em toda a sua simplicidade e beleza. Estamos sempre tão perto do que é o ser, que contornamos o que se conhece e vive, cheira e sente, em favor de abstrações que nos afastam um pouco mais de quem e do que somos.
Vale a pena uma segunda e terceira leituras.”
Estados Unidos, 22 de dezembro de 2015, compra verificada:
“Um dos grandes livros de nossa época”
“Um livro extremamente importante para os interessados em psicologia e filosofia.”
O texto a seguir trata da aceitação para publicação de um dos artigos (avaliação por pares), de um parecerista nos Estados Unidos:
“Costa começa com o famoso paradoxo que a religião cristã e, posteriormente, a doutrina da predestinação, tentou enfrentar, seguida por Kant (“A Religião dentro dos Limites da Simples Razão”) e Schelling (“Investigações Filosóficas sobre a Essência da Liberdade Humana”). Em um movimento anti-fichtiano, Otto Rank tentou acomodar esse paradoxo: isto é, a oposição e a cisão radical (incompatibilidade ontológica) entre determinismo e livre arbítrio (que implica responsabilidade), consciência/inconsciência e liberdade, o que acarreta a oposição entre ser (que implica liberdade) e vir a ser (a cadeia necessária de causas e efeitos complexos que condicionam a emergência do homem e limitam a sua liberdade), e a oposição entre ser biológico e ser simbólico (Rank/Costa). É um paradoxo que reside no cerne da experiência psicanalítica. O paradoxo mostra o famoso dilema: como pode o homem simplesmente tornar-se o que já é desde sempre? Para sair do impasse, Schelling/Hegel/Marx (nos “Grundrisse”) inverte a visão evolutiva do senso comum, de um homem cujo ser está subordinado ao devir (devir como verdade do ser); eles invertem a relação: o devir designa então uma mera realização temporal daquilo que uma coisa, em sua essência eterna, já é desde sempre: “Na ordem dos entes finitos não livres, o devir efetivamente tem vantagem sobre o ser: os entes finitos não são autocentrados, não possuem o que Schelling chama de ‘poder do centro’: sua essência está em outro lugar, fora de si mesmos, e é por isso que alguém pode explicar uma entidade finita tornando visível a rede causal à qual sua existência está condicionada.
O homem, como ser livre, ao contrário, tem o ‘poder do centro’, e é por isso que se pode entender o devir temporal do homem, sua história de vida, apenas por meio da referência ao seu ser eterno (caráter atemporal)” (in “The Indivisible Remainder: on Schelling and related matters”, Zizek). Vamos fazer um desvio aqui via Zizek. Schelling, seguindo os passos de Kant, invoca um “ato nominal, extra temporal, de auto posicionamento, por meio do qual um homem se cria, escolhe seu caráter eterno. O ato que me cria, como um sujeito consciente de si mesmo, de meu caráter específico (isto é, por meio do qual eu me crio e me posiciono como tal) só pode ser inconsciente” (in “The Indivisible Remainder: on Schelling and related matters”, Zizek). Ao contrário de Fichte, que pensa que a própria essência do homem é seu próprio ato, Schelling não encerra o ato na autoconsciência, mas o situa no que Lacan chamará mais tarde de Real (“o cerne real do ser do homem que precede a consciência” – Zizek). Ou seja, enquanto Sartre diz que a existência precede a essência, Schelling (antes) e outros, afirmam que o Real precede a essência.
De certa forma, a presença/intrusão do Real não significa que a decisão arbitrária de Deus seja salvar ou condenar o sujeito, mas que o sujeito se predestina, produz o código de seu destino (Lacan): “em um extra temporal eternamente passado, com um ato livre inconsciente desde sempre realizado, ele escolhe o caráter eterno de sua existência temporal. Dentro de sua auto experiência temporal, é claro, essa decisão livre aparece para ele sob a forma de seu oposto: como uma necessidade inexorável” (Zizek). Segundo Costa, Rank tenta conciliar vontade com cultura, ou seja, assumir um espaço de liberdade para o indivíduo que possa, então, servir de ponto de partida para fundamentar a filosofia moral kantiana. Rank, tal como Becker, via na afirmação da vontade interior (númeno) uma oposição à coerção externa do mundo, construindo um espaço de liberdade e
tirando-nos do paradoxo. A posição básica de Rank é “anti-positivista” e rejeita um determinismo biológico rígido. Costa mostra que Otto Rank segue a crítica de Kant à razão prática, que insere a lei moral como produto de uma pura afirmação da vontade humana (uma vez que o “mundo moral” não pode ser demonstrado pela natureza e pela história) afirmando, portanto, o númeno (ou seja, o que a razão percebe como o que deveria acontecer no mundo inteligível) projetando no mundo externo do fenômeno (o que a razão percebe no mundo sensível) – aqui razão e vontade coincidem.
Na razão legisladora, as leis da liberdade devem ser autônomas, independentes e não acionadas pelo mundo sensível. Cabe à vontade, que então se torna o uso prático da razão, afirmar as escolhas autônomas do ser humano, ao mesmo tempo em que faz do mundo empírico um espaço de afirmação de valores. Aqui, Costa concorda com Zizek quando Zizek cita: “o ato numenal primordial de auto predestinação em que liberdade e necessidade coincidem”, embora Zizek diga que Schelling vai além de Kant ao
relacioná-lo ao próprio Absoluto, algo que Kant não pode fazer (“The Indivisible Remainder: on Schelling and related matters”, Zizek).”